Retorno aos Ultra Trail – Relato de Nelson Mendes (Pexe) no Patagonia Run 2018
autor: Nelson Augusto Mendes
Depois de mais de 4 anos sem participar de corrida de longa distancia em Montanhas, resolvi voltar, mas voltar com categoria. Fiz contato com a minha ETERNA treinadora/amiga Daiane Luise para me falar o que achava, pois minha carga de trabalha esta intensa, de segunda a segunda, seja no escritório, na faculdade, na sala de aula, na ambulância ou na aeronave, mas enfim, quando eu coloco uma coisa na cabeça, vou atrás dos meus objetivos. Sendo assim, eu tinha 6 meses para treinar e correr os 100km da Patagônia Run.
Comecei os treinos com apoio da minha namorada Kelli (Meu Bem) no morro de Jaraguá do Sul SC, onde em 6km tem um desnível altimétrico de 920m. Não tinha como não ficar forte, porém não consegui fazer treinos longos, pois não tinha tempo suficiente. Meus longos foram sair da minha casa às 04h da manhã e voltar às 9h, porque tinha reunião às 10h, e bora treinar.
Enfim, partiu Patagônia Run 2018. Embarquei dia 03/04 com um povo que não conhecia, porém foi muito legal. Hoje temos um grupo de umas 10 pessoas que somos GRANDES amigos. Chegamos em San Martin de Los Andes – Argentina, cidade onde é dada a largada e chegada da prova. Como sempre, cidade com muito vento e frio, demos uma rodada nas trilhas ao redor do Lago Lacar para soltar as pernas depois de tanto tempo no avião.
No dia 06/04 às 19h30min as vans da organização estavam levando os atletas para o local da Prova, que é realizada em uma base militar da região.
Largaram 450 atletas para o percurso dos 100km às 21h. Na largada estava frio, mas sem vento e isto ajudou e muito. Larguei de tôca, buff no pescoço, camiseta, fleece e anoraque, luva, bermuda e meia de compressão. A bermuda foi estratégia, pois se eu parasse iria sentir frio, sendo assim não poderia parar (risos). E claro, com o bastão de caminhada.
Antes da largada encontrei meus amigos Cid e o Mauricio e largamos meio juntos, porém dei uma segurada, pois não queria força logo no início. Minha estratégia era manter o ritmo do início ao fim.
No PAS Rosales no Km7 peguei uma manteiga de cacau e continuei correndo. Logo encontrei a primeira descida e como é bom ter lembrança corporal. Desci descadeirando, pois sempre foi meu forte descer em trilhas de montanhas. No PAS Portezuelo no Km15 tomei um gole de café, e “dale” correr. Subi o Colorado firme e forte, ritmo bom. Quando parei no cume para fazer um video e guardar os bastões, minha mão direita quase congelou. Desci rápido do cume, fiquei uns 20 minutos movendo a mão direita para aquecer e mesmo assim não parei de correr forte nas descidas. Dei uma torcida rápida no tornozelo, ai foi só administrar.
Chegando no PAS Colorado, no Km 26, estava me sentindo bem. Troquei a camiseta que estava molhada, peguei mais uns saquinhos de pingo de ouro e um pouco de castanha oferecida pela prova, e bora correr. Porém 2km depois senti meu estomago pesado. De imediato lembrei das castanhas…. Eu não podia ter comido nada diferente e foi piorando tudo, pois o morro Centinela que era para ser só mais um morro, foi muito puxado, pois não subiu pelas curvas de nível. Foi uma linha reta até o cume com terra fofa, deixando a caminhada mais pesada e escorregadia. Não consegui comer nem tomar mais nada. O trecho que tinha me programado para fazer em 1h30min a 1h40min, levei 2h45min.
Meu psicológico abalou, meu estomago estragou, mas lembrei que tinha o PAS Quilanlahue e imediatamente lembrei das instruções que meu bem me deu: “se você estiver cansado, pare.” Parei lá, deitei por 25 minutos – sim, eu dormi – e quando acordei comi um pão que a Ana Carolis fez, tomei um gole de café, e bora voltar a correr, pois a subida do Quilanlahue era a prior da prova.
Quando eu cheguei neste PAS eu estava em 27º da categoria. Fiquei bem uns 50min parados lá, subi o Quilanlahue firme e forte. O Morro das Antenas de Jaraguá do Sul me ajudou e muito nesta hora. Cheguei ainda de noite no cume e na descida estava descansado, soltei as pernas é só sabia falar “permiso, permiso” e assim foi.
Chegando no PAS Coihueem 22º na categoria. Como é bom dar um cochilada quando se está cansando (risos). Dali para frente foi só administrar, pois as cãimbras começaram a pegar. Muda-se a passada, come um pingo de ouro, muda a passada, come uma paçoquinha, e assim foi. Como era descida até o PAS del Lago continuei forte na corrida.
No PAS del Lago tomei uma coca e continue trotando até a beira do lago, onde tem muitas pedras grande. Resolvi caminhar, pois meu corpo estava cansado. Como eu tenho os tornozelos frouxos fica mais fácil de torcer, mesmo assim caminhando rápido passei alguns atletas.
No PAS Quechuquina no KM 63, o sol estava forte. Coloquei uma camiseta seca e o manguito, tomei uma coca, comi pingo de ouro, e bora correr. Logo na saída tinha uma subida forte, que muita gente ficou para trás. Coloquei um ritmo de caminhada forte e bora, estava caminhando com um pace de 9:40 a 9:55min, bom para subida, mas claro com a ajuda os bastões.
No plano encontrei um argentino, Matias Amenabar de Bragato, que me ajudou a voltar ao ritmo, pois eu estava caminhado forte e ele me fez correr. Corremos até o PAS Quilanlahue II, tomei uma coca, pensei até que iria encontrar o Marinho ou a Yoyo que estavam fazendo os 70km, mas não encontrei. Continuei a prova, porém caminhando. Senti um pouco mais o cansaço do corpo, pois eu não treinei mais que 6 horas de corrida constante e claro que uma hora o corpo iria sentir.
Dali para frente foi cabeça e coração, corre-caminha e assim foi. Antes de chegar no PAS Colorado, a Yoyo passou por mim e falou que estava com muita dor nos pés e que iria parar no PAS Colorado. Continuei caminhando e cheguei uns 5 minutos depois dela no PAS. Lhe dei uma bronca, pois faltavam menos de 15km para ela terminar e se quisesse, que corresse para me alcançar. E não é que ela veio!
Continuei caminhando em ritmo forte até ela me alcançar e voltamos a correr e caminhar juntos, um dando força para o outro. Faltando 4km para chegar na cidade eu dei uma diminuída boa no ritmo, pois comecei a sentir meu joelho. Não queria voltar com fortes dores no corpo para casa, até mesmo porque meu bem iria brigar muito comigo, hahaha.
Caminhei os últimos 4km e quando cheguei na cidade não dava para não correr. Eram 19h com o dia claro, muita gente na rua gritando e dando força para terminar. Tirei a bandeira do Brasil do bolso e saí correndo até cruzar a linha de chegada com muita emoção, pois terminar uma prova de 100km com 6.706 metros de desnível com pouco treino, não é mole. Uma emoção tremenda. Foi PADRÃO…
Posso garantir que terminei esta prova com muita ajuda do Papai do Céu. Ele me fez usar mais a cabeça do que o corpo; minha linda namorada, que mesmo longe estava conectado comigo, me passando boas energias, pois lembrei de cada orientação que me deu; minha Treinadora/Amiga Daiane Luise, que mesmo tendo dificuldade para montar minhas planilhas de treinos, acreditou em mim; a Faculdade Censupeg que me apoio do início ao fim desta prova; e claro, a TODOS os meus amigos que trabalham lá. Agradeço aos meus amigos que me deram força e como não poderia esquecer dos meus alunos de diversas regiões deste Brasil. Eu recebi as energias de cada um de vocês; minha família, que estava na torcida em Curitiba PR, obrigado a todos.
Finalizo meu relato com uma frase do Mahatma Gandhi “A força não provém da capacidade física. Provém de uma vontade indomável”.