TUTAN – Transmantiqueira Ultra Trail Agulhas Negras 2018
por: Fabiana Pederzoli
Dia 21, de abril de 2.018, despertador toca às 2:00 da manhã. Acordo, respiro fundo, começo a me trocar e dou uma breve revisada em meus equipamentos para percorrer os 70k da TUTAN. Mochila, cinto para trekking poles, tênis, corta vento, buff, luvas e uma blusa mais quente para poder aguentar o frio que estava na região de Visconde de Mauá. Em seguida saio da pousada, que ficava a uns 3 km do centro de Visconde para pegar o ônibus da organização, pois a largada seria da Garganta do Registro – Itamonte.
Entro no ônibus e encontro alguns conhecidos. Em meio a alguns comentários descontraídos, o clima da prova ia tomando conta. Partimos e logo dormi!!! Foram quase uma hora e meia de estrada para chegarmos no local da largada, ainda escuro, alguns estabelecimentos abertos para que pudéssemos tomar um café, comer um pãozinho…. ansiedade aumentando, primeira vez que faço uma prova mais longa, mas a cabeça estava boa.
Arrumo de novo minha mochila, encho meus squeezes de água, tiro a blusa mais quentinha e sigo para a largada. Agora não tem mais volta, é seguir por entre a Mantiqueira rumo a Visconde de Mauá. Dou um abraço de boa prova nos amigos, me alinho e logo ouço a largada.
A prova começava em um estradão sentido ao Parque Estadual das Agulhas Negras, lugar mais lindo que já visitei. Alguns carros da organização passavam para ir nos acompanhando. Recebo o rádio das mãos de Marcos (organizador da TUTAN), por segurança. A cada passada que eu percorria um misto de emoção ia me preenchendo. As paisagens começavam a dar um sinal de tanta beleza em meio a altas montanhas, uma vegetação típica de montanha e também o nascer do dia contemplava para aqueles primeiros km de prova. Sigo em um ritmo confortável, tentando sentir meu corpo…
Chegando a portaria do parque escuto um “Força Fabi!” e quando olho para meu lado vejo Welington Noronha e sua namorada Michele, o que me fez sentir mais forte para continuar. Passo pela portaria em meio a alguns visitantes, entre montanhistas e adoradores da região, com alguns gritos de incentivo e sigo rumo a antena. Conforme eu subia a estrada de um lado o Morro do Couto me prestigiava com sua beleza e logo em seguida avisto a linda cadeia de Montanha das Agulhas Negras. Este trecho era um bate e volta, logo encontramos com os primeiros colocados e chegando ao topo, bebo um copo d’agua, dou uma breve olhada para o imenso parque, desmonto meu trekking poles, guardo e começo a descer, em um ritmo um pouco mais forte.
Próximo ao km 16 sinto uma fisgada na região do quadril do lado esquerdo, o que me custou uma queda de ritmo até entender o que estava acontecendo. Neste momento, comecei a achar que não seguiria, mas logo a dor foi indo embora e voltei a correr.
E descia. A prova da Tutan mais descia que subia o que acabava judiando das articulações. Chegando ao km 26 pegamos um trecho de single, neste momento uma forte sinusite me acompanhava. Segui tranquila, pois estava com 3:15 de prova. Foram subidas em meio a alguns trechos de erosão, mata fechada, pastos… neste momento seguia sozinha, mas aos poucos me juntei a uns atletas que acabaram se desorientando pela falha de marcação. Nesta hora era muita atenção e companheirismo. Foram quase 10km de single, onde chegávamos de volta a um estradão de terra que nos levava ao drop bag.
Chegando neste PC tiro a mochila, me hidrato, alimento, vou ao banheiro e converso um pouco com um responsável da prova, alertando sobre a falta de marcação. Os próximos 20k era de estrada, o que permitia correr. Sigo em um ritmo confortável, sozinha me permito seguir escutando uma boa música. Um desconforto no pé começou a me incomodar, chego em um vilarejo, paro em um bar e arrumo meu tênis, tiro minha bandagem do pé esquerdo, que já havia me custado um belo corte. Converso um pouco com dois senhores, que me oferecem água e me desejam boa prova. Alguns metros depois sou parada por uma mulher que também curiosa, me pergunta para onde estava indo.
Sigo por entre estradas e chego ao próximo PC, onde duas meninas, um garotinho e um senhor iam e vinham de sua casa trazendo água que já havia acabado. Pego um Gatorade, olho para o gps e vejo que a distância marcada já não batia com a distância apresentada pela placa da prova. Sigo por um trecho de single novamente. Nesta hora já estava com quase 60k de prova, onde sentia uma alivio e por estar tão chegando.
Neste trecho meu joelho já não aguentava mais. O esquerdo travou, não suportava mais descida e as trilhas eram muito erosivas. Diminui muito o ritmo. Chego em um casal que anotava os números e pergunto a direção, onde mais uns 2 km chegava em um outro PC. Neste PC converso com dois integrantes e os mesmos me explicam mais ou menos o restante do que faltava e comecei a ficar nervosa, pois a prova já havia chegado aos seus 70km e pelo que haviam dito ainda faltavam uns 8km.
Nesta hora queria mesmo era correr contra o tempo, a noite estava próxima e queria mesmo era não ter que estar em um single no escuro. Foquei, busquei força e passei pelo último trecho de trilha. Passei por uma porteira e encontrei em sentido contrário alguns atletas do 100k, neste momento, nos incentivamos e seguimos.
A noite começa e retiro da mochila minha hed lamp. Em meio a solidão, já esgotada fisicamente, a preocupação agora era em poder achar as marcações refletivas. E nada!!! Continuo seguindo com a intuição de estar certa. Um carro da organização passa para ver se estou bem, reclamo da falta de marcação e sigo. Por alguns momentos encontro moradores que me guiam sentido a Visconde.
Chego no último PC já muito estressada, o que me restavam uns 5km de asfalto e o frio já se apresentando. Penso que tenho que chegar e não sei de onde vem uma força para seguir correndo.
Logo passa um carro e grita, vamos “Linda, está chegando”. Olho para o lado era Sidney Togumi e logo ele desaparece. Carros passam incentivando o término dessa prova, loucura!
Chego a Visconde a visto o pórtico, um sentimento de conquista, coragem e determinação para mais uma história a ser preenchida. Chego em um sentimento de decepção com a organização, mas um sentimento de grandeza por parte de minha pessoa, por ter superado todas as adversidades apresentadas.